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Pandemia pressiona preços e cuiabanos se preocupam com idas ao mercado

Destaque 16/08/2020 14:15

Um dos principais efeitos da crise sanitária global, ocasionada pela pandemia de coronavírus, é o impacto na economia. Para um país que já se recuperava lentamente de uma recessão, como o Brasil, a Covid-19 trouxe novamente um cenário de dificuldades. Em outras palavras, os consumidores têm sentido a pandemia no bolso.

mercado do porto

 

Foi o que disse a assistente social Maria Aparecida, de 46 anos,. “A gente percebe o aumento dos preços porque sente no bolso. Hoje, ir ao mercado com R$ 100,00 é a mesma coisa de ir com R$ 10,00. A Covid-19 não tem dia ou hora marcada para ir embora e os preços sobem toda semana”, comentou.

À reportagem, o Doutor em Ciências Econômicas e professor da Faculdade de Economia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Leonardo Flauzino, explicou o panorama de variação dos preços e as tendências para a economia.

O professor explicou que, a princípio a situação pode parecer alarmante, mas que é preciso cautela ao analisar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), isto é, a medida de como os preços evoluíram de um período para o outro.

O IPCA registrou recorde em julho e fechou em 0,36 – o maior número para  o mês em quatro anos. Em contrapartida, o acumulado do ano está em 0,46 – uma das variações mais baixas da história.

“Então, teríamos uma nova tendência de alta do IPCA se iniciando? Provavelmente não. Os artigos que mais pesaram na variação mensal foram: Habitação, Artigos de Residência, Transporte e Comunicação. Três destes itens estão associados ao momento de pandemia e isolamento social que estamos vivendo: habitação, artigos para residência e comunicação. As pessoas passaram a viver mais tempo em suas casas e demandaram produtos relacionados a este fator, encarecendo-os”, pontuou Leonardo

Já em relação ao transporte, o professor esclareceu que a variação está associada aos reajustes de preços administrados por tarifas municipais e

Luciana Cury/Seaf-MT

Hortifruti, verduras, legumes, mercado

 

estaduais relativas ao transporte público e pedágios que usualmente acontece no começo do ano, ou no meio do ano. “De forma geral, isso vai afetar muito pouco os consumidores, com exceção aos de baixa renda que gastam praticamente tudo o que ganham”, afirmou.

No entanto, a maior preocupação dos cuiabanos costuma ser com o mercado, ou seja, o grupo de alimentos e bebidas. Nesse grupo, a alta no preço tem duas explicações usuais, quebras de safra e choques na taxa de câmbio. Em 2020, o dólar tem sido o maior vilão nas compras de mercado.

“Muitos alimentos, como carne, soja, trigo e commodities em geral tem seus preços determinados em dólar nos mercados financeiros externos. Isso significa que elevação no preço do dólar costuma causar aumento nos preços dos alimentos. No geral, estamos observando um dólar errático, mas com tendência de alta, que poderia contribuir para este impacto nos alimentos”, apontou o professor da UFMT.

O professor ainda disse que a tendência geral do índice de preços é baixa, isto porque a pandemia de coronavírus desencadeou uma recessão severa. “Isso significa que a demanda e a renda das pessoas vai cair drasticamente. Quando isso acontece, a falta de demanda também causa queda nos preços dos produtos”, esclareceu Flauzino.

Para os alimentos, no entanto, a história é diferente. Por se tratar de um bem básico, a procura por esse tipo de produto não é consideravelmente afetada pela diminuição da renda. Mesmo com menos dinheiro no bolso, as famílias têm que continuar dispendendo boa parte do orçamento com as idas ao mercado. Outro fator preocupante é a taxa de câmbio, que deve continuar em movimento de alta.

“Levando em consideração que o cenário internacional é de completa incerteza e de que a taxa de juros deve continuar muito baixa, a taxa de câmbio deve continuar em movimento de alta, pressionando os preços dos alimentos”, concluiu Leonardo.

Alternativas

Mesmo diante da insegurança econômica, da alta taxa de desemprego e da pressão sobre o câmbio, os consumidores cuiabanos encontram alternativas para comer bem, gastando menos.

Divulgação

horta

 

“Esse ano eu repensei alguns hábitos de compras de supermercado por conta do aumento de preços, invés de fazer uma compra para o mês, tenho preferido fazer as compras “picadas” para aproveitar promoções em diversos mercados diferentes”, comentou o estudante Pedro Mutzemberg, de 21 anos.

A mesma alternativa foi adotada pela assistente social Maria Aparecida. “Uma das alternativas que busco para gastar menos, é comprar nos dias de promoções e fazer pesquisa de preço”, disse.

Pedro, por sua vez, contou que além da pesquisa aprofundada de preço, ele também encontrou substituições na hora de montar os pratos. Durante a alta no preço do alho, por exemplo, o estudante adota o gengibre e diminuição do consumo de carnes e proteínas animais por vegetais e hortaliças, que tem um custo menor.

Outra medida adotada pelo estudante foi a horta doméstica. Segundo ele, com pouco espaço é possível suprir diversas necessidades. A alternativa também é uma forma de garantir a saúde, já que os alimentos são totalmente orgânicos.

“Eu faço em casa o processo de compostagem doméstica para eu garantir a colheita de cebolinha, rúcula, tomates e algumas alface. Chá, por exemplo, é uma coisa muito cara no mercado e os meus favoritos eu tenho em casa. Isso já economiza muita coisa”, concluiu.


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